‘Horizonte Perdido’ é tema da semana de ‘Filmes que o Tempo Levou’

Horizonte Perdido é tema da coluna de Nelson Machado Filho Foto: Divulgação

Apaixonado pelo cinema, Nelson Machado Filho conta sobre o filme “Horizonte Perdido” na coluna “Filmes que o Tempo Levou” publicada pelo Rota das Águas.

Filmes que o Tempo Levou”  apresenta: “Horizonte Perdido
Por Nelson Machado Filho

Especial para o Rota das Águas

Quando os nossos valores, nossas crenças e esperanças parecem ter sido virados do avesso, especialmente em tempos de pandemia. Quando nossas inquietações não sabem entoar senão a fala da dúvida, da aflição e da descrença.

Quando tudo parece ter perdido o rumo; quando nos deixamos abater pela crise generalizada e experimentamos, coletivamente, a sensação de que nada vale a pena. É para o cinema que recorremos, para que através de um bom filme, possamos encontrar um sentido para a vida e as coisas. Então me vem à memória o som de uma música:

“Você já sonhou com um lugar longe de tudo
Onde o ar que você respira é suave e limpo
E as crianças brincam em campos verdes
E o som das armas não pesa nos seus ouvidos
Nunca mais
Há um horizonte perdido esperando ser encontrado
Há um horizonte perdido
Onde o som das armas não pesa mais em seus ouvidos
Nunca mais”.

Estes versos, compostos por Hal David para a bela música de Burt Bacharach, nunca saíram de minha lembrança desde que vi no Cine Variedade, pela primeira vez, a versão musical do filme ”Horizonte Perdido”. Era um dia 2 de novembro de 1973.

Sinopse e comentários
Enquanto escapam da China devastada pela guerra, um grupo de europeus é sequestrado por um piloto misterioso e o avião que os transportava sofre uma pane e colide numa área do Himalaia, no Tibete. Os componentes do grupo são resgatados e levados para o misterioso Vale da Lua Azul, Shangri-La.

Oculta do resto do mundo, Shangri-La é um lugar utópico e paradisíaco, onde reina a paz e a valorização da vida. Lá não existe o mal e a vida cresce em amor e sabedoria. Para o diplomata cansado Richard Conway é o seu novo mundo, que tanto contemplou em seus sonhos.

Mas o seu ambicioso irmão, George, vê isso como uma prisão da qual deve escapar, mesmo que isso signifique arriscar a vida e trazer destruição à cultura antiga de Shangri-La. Esta versão musical de “Horizonte Perdido” é uma refilmagem da obra do mesmo nome dirigido por Frank Capra em 1937. Esta versão do filme foi o primeiro trabalho da Columbia Pictures a ser rodado sob o controle da Warner Bros em 1972.

Horizonte Perdido” foi um fracasso nas bilheterias mundiais que, por vários anos, desestimulou os grandes estúdios de Hollywood a produzir um musical de qualquer tipo.

A crítica especializada detonou o filme. Alguns jornalistas afirmam que quando foi exibido para um público selecionado da indústria cinematográfica de Hollywood, cerca de metade dos presentes saíram da sala de projeção bem antes do filme terminar. Entre as muitas celebridades que se dirigiram para as saídas estava Doris Day.

Este foi o primeiro filme do produtor Ross Hunter para a Columbia Pictures depois de produzir uma série de sucessos para a Universal Pictures ao longo de 20 anos, incluindo “Imitação da Vida” (1959), “Madame X” (1966) e “Aeroporto” (1970). Após seu enorme fracasso comercial, “Horizonte Perdido” foi o último.

As atrizes Julie Andrews, Jean Arthur e Barbara Stanwyck foram convidadas para atuarem no papel da professora Catherine, mas recusaram. Liv Ulman assumiu a missão e no meu ponto de vista foi muito bem interpretado pela atriz. Ela é encantadora.

Para os críticos, esse filme podia parecer cafona e desprezível, mas para mim e para milhares de espectadores, foi bem-vindo, pois nós descobrimos os segredos de Shangri-La! Não seguimos os méritos dos críticos e o filme nos deu paz e tranquilidade. Recebemos uma mensagem calorosa, refrescante e muito positiva.

Existem alguns bons momentos musicais no filme. O primeiro é o de Bobby Van. Ele assumiu o papel de Harry Lovett. É um homem que cantava e dançava desde os tempos antigos e, honestamente, o único no elenco que era verdadeiramente talentoso e experiente em musicais. Ele nunca perde um passo em sua música – “Pergunta-me uma Resposta” – e, com razão, ele estava totalmente em casa como Harry.

Outros números agradáveis ​​são feitos por Olivia Hussey, quando ela recebe os novos visitantes em Shangri-La. Embora a letra seja fraca. James Shigeta mostra sua voz forte na música “Vivendo Juntos, Crescendo Juntos”. Liv Ulman canta “O Mundo é Redondo”, enquanto Peter Finch e Liv Ulman cantam juntos “Talvez eu Possa Assustá-la”.

Mas a que eu mais gostei é “Reflexões”, cantada por Sally Kellerman e também a música de introdução e final do filme “Horizonte Perdido”, magistralmente orquestrada por Burt Bacharach.

A trilha sonora tem uma interação com os personagens e as cenas do filme foram muito bem fotografadas por Robert Surtees.  Adorei o filme! O elenco é maravilhoso e também o cenário e às partituras musicais! Ele ficou comigo ao longo dos anos como um dos meus favoritos. Naquela época, na véspera de Natal, comprei o LP com as músicas do filme e tocava o tempo todo numa vitrola na minha adolescência. E ainda toco.

E no Cine Variedades, naquele novembro maravilhoso; o som se arrastou para trás da tela flácida e a plateia se emocionou com “Horizonte Perdido”. Eu fiquei extasiado com aquele espetáculo maravilhoso em Cinemascope. Que noite!  Inesquecível!

Como resultado, “Horizonte Perdido” tem um lugar especial em meu coração. É um filme musical gloriosamente eterno e já perdi as contas de quantas vezes o revi. Foi lançado um DVD em edição especial com 30 minutos adicionais de material excluído anteriormente, tem música extra e muito material de bônus.

Ficha Técnica

Filme – “Horizonte Perdido”
Produção – Colúmbia Pictures
Ano –1973
Direção – Charles Jarrott
Elenco – Peter Finch, Liv Ullmann, Sally Kellerman, George Kennedy, Michael York, Olivia Hussey, Bobby Van, James Shigeta, Charles Boyer  e John Gielgud
Produtor –  Ross Hunter
Roteiro – Larry Kramer. Filme baseado no romance de James Hilton
Música – Burt Bacharach
Fotografia – Robert Surtees
Cenografia – Jerry Wunderlich
Figurino – Jean Loui

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