Mazinho Quevedo, 52 anos, é reconhecidamente um estudioso da música raiz e faz parte de um grupo seleto de violeiros talentosos, os melhores do Brasil. Cantor, compositor e instrumentista foi apresentado à viola ainda menino, aos dez anos, e do período de aprendizado ao sucesso foi só uma questão de tempo.
A carreira, que rompe a marca de 25 anos, será passada a limpo na noite de sábado (29), quando Quevedo se apresenta no Festival de Inverno de Águas de Lindoia. O show começa às 21h no palco da Praça Adhemar de Barros, no coração da estância hidromineral do Circuito das Águas Paulista.
Na realidade, quem estiver na praça vai poder acompanhar um encontro em família no palco. Ao lado de Mazinho estará sua mulher, a cantora Adrielli Duarte, que inclusive já gravou CDs com o marido, e o filho Vitor Quevedo, que segue a carreira do pai.
A família será acompanhada pela banda “Aqui é assim. Quem não é da música, vai para a roça”, comenta em meio a risos o mago da viola.
Mazinho Quevedo, nascido em Adamantina, no interior de São Paulo, é dedicado à moda caipira. Enfatiza a importância da influência de Tião de Carreiro e Tonico e Tinoco em sua vida musical, mas sem se descuidar de seu estilo próprio.
Quevedo é um dos poucos músicos do gênero que consegue, por exemplo, unir o som raiz à Música Popular Brasileira (MPB), ao requinte do jazz, além da música flamenca e a instrumental. Tudo dentro de uma adaptação própria e muito peculiar.
O cantor, que atualmente mora em Araras, revela que sua vida artística nunca foi fácil. “Toquei muito em bares e festas até conseguir me estabelecer. Naqueles tempos, ninguém queria contratar ‘caipiras’. Precisei estudar, reinventar com o estilo instrumental”, diz.
Os anos passaram e Mazinho Quevedo tem hoje o reconhecimento de seu talento no País e no exterior. A prova foi o convite para a apresentação no Projeto Brasilidade, em Portugal.
O instrumentista ainda tem sua música eternizada no documentário “O Encanto das Águas” e nos programas “Terra da Gente” e “Caminhos da Roça”, todos produzidos pela afiliada da Rede Globo, EPTV.
Ainda assinou a trilha sonora do programa “Viola, Minha Viola”, da TV Cultura, além de conseguir a façanha de ter seu nome indicado para o Grammy Latino, em 2009, graças ao sucesso do álbum “Alma Caipira”.
Ainda há uma série de participações importantes de Quevedo pelo Brasil afora. No filme “O Menino da Porteira”, o talento do instrumentista pode ser conferido na cena em que acontece uma roda de viola. Ele aparece ao lado do cantor Daniel e de seu pai, José Camilo.
É toda esta história que o público vai acompanhar de perto no sábado (29) à noite. Antes do show, Mazinho Quevedo dedicou um tempinho ao Rota das Águas em uma entrevista bem descontraída.
Rota das Águas – Faz muito tempo que você não vai a Águas de Lindoia? O que o público pode esperar no sábado?
Mazinho Quevedo – Para falar a verdade me apresentei em Águas de Lindoia há uns 10 ou 11 anos em um Festival de Inverno. É uma das belas cidades turísticas da região e que recebe muita gente de São Paulo e outras cidades. E vai ser maravilhoso voltar lá e mostrar a nossa música raiz, a música da nossa região, né? Todos nós somos caipiras. O show terá um resumo da minha carreira nestes 25 anos e alguns clássicos também. Vinte e cinco anos? Falam 25 anos, mas é mais. Comecei muito cedo
A maioria das cidades do Circuito das Águas Paulista promove festivais. Em sua visão, qual é o benefício que traz eventos assim?
Mazinho Quevedo – São importantes, principalmente pela oportunidade de, no meu caso, por exemplo, poder mostrar nossa cultura, a música raiz. Essa música vem dos tempos da colonização. É a música trazida pelos Bandeirantes. Temos que valorizá-la. Festivais também são uma forma dos artistas divulgarem seus trabalhos. Participei de muitos festivais, sei reconhecer a importância de seu significado.
Você costuma levar a família para os shows?
Mazinho Quevedo – A Adrielli, minha esposa, está sempre comigo. Me acompanha, cantamos, gravamos juntos. O Vitor participa as vezes. Ele vai estar em Águas.
Como anda a carreira de Mazinho Quevedo atualmente?
Mazinho Quevedo – A ideia é gravar mais um CD com a Adrielli. Hoje em dia é bem mais fácil gravar CDs, bem diferente de antigamente. Também continuo atendendo aos convites para shows. Vou continuar nessa linha.
E televisão?
Mazinho Quevedo – Estou meio sumido da televisão. Você deve ter acompanhado, foram muitos anos com a EPTV, com a participação em documentários e programas. Agora, vamos ver o que acontece. Continuo, desde 2015, com meu programa de rádio. São mais de 300 emissoras no País que retransmitem. Acho que no Circuito das Águas deve ter uma. É algo que gosto de fazer.
Você não recebeu um convite para comandar um novo “Viola, Minha Viola”, na Cultura?
Mazinho Quevedo – Fui, não aceitei. Não é um novo programa. A ideia deles era reapresentar os antigos. Não vou fazer isso. Acho que seria até antiético com a imagem da Inezita Barroso, que foi grande amiga minha. Reapresentar algo que ela apresentou. Não dá, né?
Você também faz um trabalho com orquestra de viola de Jaguariúna. Que trabalho é esse?
Mazinho Quevedo – É verdade. Gosto muito de trabalhar com orquestras. A ideia é passar a experiência, mudar o estilo, um novo repertório. É por aí. Orquestras fazem parte da minha vida. Fundei a de Araras, onde moro, depois fui para Paulínia, Piracicaba e Hortolândia. São muito anos trabalhando com orquestras.
As cidades do Circuito das Águas há muitas orquestras
Mazinho Quevedo – Tem sim. Isso é importante para manter vivas nossas tradições, nossas raízes.
Como você analisa o atual estágio da música raiz
Mazinho Quevedo – Rapaz, nada é fácil. A música raiz é cultural, não comercial. Sempre precisei correr muito para superar as dificuldades. Antigamente ninguém queria música raiz em bares e casas noturnas, então, eu me apresentava com música instrumental. Hoje não mudou muito. A música comercial, aquelas que os caras começam três assuntos e não terminam nenhum, é a que faz sucesso. Um sucesso com prazo de validade, é verdade, mas é isso. Cabe a nós manter a história viva da melhor forma possível. É isso que vamos fazer em Águas de Lindoia.
Me fale um pouco de suas influências?
Mazinho Quevedo – O Brasil sempre teve ótimos violeiros. É uma tradição. Tonico e Tinoco são nomes que reverencio por tudo o que fizeram e o legado que deixaram. Tenho uma viola, aquela verde e amarela, que ganhei deles. Lembra dela? No meu caso, procuro sempre estudar, me aperfeiçoar cada vez mais.
Vai levar a verde e amarela no show em Águas?
Mazinho Quevedo – Não. Essa, não. Vou levar as minhas de costume. Umas duas.
Ótimo show em Águas de Lindoia
Mazinho Quevedo – Obrigado. Vai ser ser muito bom tocar lá, com muita música raiz, regional, marca da região. Leve a família.