Jayne fala ao Rota sobre a vida e os 30 anos de carreira

Cantora Jayne faz show neste sábado em Monte Alegre do Sul Foto: Divulgação

A cantora Jayne, que ficou conhecida como a rainha dos rodeios, volta a Jaguariúna no domingo (18) para o show acústico que fecha a programação da 23ª Festa dos Caminhoneiros. A apresentação acontece a partir das 16h, na Fazenda da Barra. A entrada é um quilo de alimento não perecível.

Natural de Paranapuã, no interior paulista, ela despertou o lado artístico ainda criança. Depois de se mudar para São Paulo aos 16 anos de idade, se formou em economia pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), foi aeromoça da extinta Varig, onde acumulou 7.700 horas de voo pelo céu do Brasil e do exterior, até se entregar de corpo e alma à verdadeira paixão: a música.

Jayne completa 30 anos de carreira em 2019 e até nos dias atuais é considerada uma das principais intérpretes do universo sertanejo e country no Brasil. É conhecida por inúmeras versões de sucesso e, principalmente, pelos espetáculos inovadores nas arenas de rodeios do País inteiro no final dos anos 80 e início de 90.

Dona de dezenas de trabalhos, Jayne bateu um papo descolado com o Rota das Águas antes de pegar a estrada para Jaguariúna. Entre muitos assuntos falou sobre a importância da cidade em sua carreira. “Jaguariúna me traz muitas recordações boas, fiz grandes festas lá. O show de domingo é bem especial”, diz.

Jayne mostra o trabalho acústico na Festa dos Caminhoneiros, em Jaguariúna Foto: Divulgação

 Rota das Águas – Você tem seu nome eternizado na história do rodeio de Jaguariúna e retorna à cidade em um ano especial de da carreira, que completa 30 anos. O DVD “Acústico – 30 anos” é o marco da celebração?
Jayne – Então, pois é. O tempo passa muito rápido, né? Completo 30 anos de carreira e pretendo comemorar de várias maneiras. Já me sinto feliz porque preparamos o DVD “Acústico – 30 anos”, um trabalho mais light, com a participações de amigos, bem mais intimista.

Quem são os artistas que você escolheu para este trabalho?
Jayne
– Estou feliz porque reuni amigos especiais que conheci ao longo da carreira. Tem a participação da dupla Lourenço e Lourival, do Marcelo Viola e o Ricardo, o mesmo Marcelo que tocou viola para mim em várias músicas. Tem também uma amiga muito querida, que eu costumo chamá-la de réplica, a Jayninha Priscila. Ela cantou a música “Menino da gaita” comigo. Tem a Fátima Leão que gravou “Eu me traio com você”, uma música linda dela, que inclusive é nossa música de trabalho no momento. O Alexandre Ares, um cantor de bolero, um amigo das antigas, que também me deu a honra de sua participação. Enfim, é um projeto simples, mas do jeito que eu sempre quis.

Então podemos concluir que o DVD traz momentos de toda a sua trajetória como artista?
Jayne
– É por aí. Inclusive faço uma homenagem aos seresteiros no final do DVD. Eu comecei a cantar em serenatas e este tempo da minha vida é retratado em músicas como “Modinha” e em “A noite do meu bem”, por exemplo. Também regravei músicas que eu cantava muito naquela época, como “Festa de Santos Reis”. Enfim foi um projeto simples, mas que era uma meta, meu sonho.

 Há algo mais que os fãs de Jayne podem esperar para 2019?
Jayne
– Então, os meus 30 anos de carreira são realmente coroados de muitas histórias e pretendo lançar até o final do ano minha biografia, a “Estrada da Esperança”. Ela é escrita por um amigo jornalista, o Thiago Simão, e estamos na fase final. Prometo contar muita coisa que vocês não sabem (rs).

E o próximo trabalho musical? Pode nos adiantar o que vem por aí?
Jayne
– Pretendo lançar um projeto só de versões ainda para comemorar os 30 anos de carreira. Eu sempre fiz e cantei muitas versões. “Mississipi”, “Solidão”, “Mais importante é o verdadeiro amor”, “Amigos para sempre”, “Menino da gaita” “Sem Você”, versão de “Without You”, que tocou muito com Matogrosso e Mathias. Todas estas músicas são versões. Acho que me dou muito bem com elas e quero fazer mais umas quatro inéditas para o novo projeto, que também devo lançar até o finalzinho do ano.

Como você se autodefine no universo da música? Se considera uma cantora country?
Jayne
– Para falar a verdade, não. Eu tive a oportunidade de gravar, em Nashville, nos Estados Unidos, em 1997. Aliás, fui a primeira artista a gravar lá, antes mesmo de Chitãozinho e Xororó. Eu poderia ter “caído de cabeça” na música americana, mas tínhamos muita dúvida na época se o estilo faria sucesso no Brasil. Então, eu fiz um disco com regravações de músicas brasileiras, apenas com uma cara e arranjos mais country. Acho que o verdadeiro country jamais emplacou por aqui.

E qual é o estilo de Jayne então?
Jayne
– Sou uma cantora sertaneja. A gente procura mesclar um pouco de tudo. Um pouco romântica, “sofrência”, universitária e um pouco country. Me considero um pouco de cada coisa.

Como veio o título de rainha dos rodeios?
Jayne
– É que realmente minha vida artística tem as raízes em rodeios. Logo de cara meu empresário queria fazer alguma coisa específica para os peões, queria que estivéssemos ao lado deles na arena e não simplesmente que eu cantasse músicas de peão. Então gravei “Rainha do Rodeio”, a primeirinha mesmo. Antes de eu ter o disco já havia gravado a música e fazia as aberturas de festas. Comecei pelo Vale do Paraíba ao lado do amigo Alonso Pimentel, um locutor de rodeio famoso já na época. Ele tinha um lindo cavalo branco chamado Ubatã e passei a montá-lo para fazer as aberturas.

Você entrava nas arenas montada em um cavalo branco e qual foi a repercussão da inovação?
Jayne – Fizemos muito, muito, muito sucesso durante o nosso primeiro ano. Isso foi em 1990. Eu cantava praticamente em todas as festas que pudessem existir. Eu queria estar na abertura. Fiz muitos shows de graça para ser aceita no universo dos rodeios, que era um meio bem masculinizado né.  E foi pegando, naquela época os rodeios tinham mais glamour, com aberturas lindíssimas. Fiz Barretos durante sete anos seguidos, sempre com uma novidade na arena.

Também participou do rodeio em Jaguariúna? Guarda alguma lembrança?
Jayne – Participei de grandes festas em Jaguariúna. Me lembro que uma vez me pediram para que eu entrasse montada no cavalo arrastando um manto de 50 metros. Lá fui eu fazer uma roupa específica para Jaguariúna. Um manto azul como se fosse o de Nossa Senhora Aparecida. Me lembro que em entrei na arena e o cavalo começou a dar de lado, pisou em cima do manto (rs). Que inusitado! Mas, foram lindas todas as aberturas que eu fiz em Jaguariúna. Tem uma especial, uma das minhas últimas lá, que eu tenho até no meu clipe da “Ave Maria”. Eu entrei em um carro-boi e havia um outro carro de boi atrás, também muitas crianças. Foi lindo, algo inesquecível.

E por que deixou de fazer as aberturas das festas em arenas?
Jayne – Porque a logística ficou complicada. Teve uma época que dos 15 shows previstos para o mês dez eram em rodeios e com aberturas com cavalos. Eu já tinha três animais brancos adestrados e ficou impossível de levá-los a distâncias maiores que 600 a 800km. Então deixei as arenas e comecei a me dedicar um pouco mais aos shows no palco, às músicas que tocavam nas rádios do que propriamente aos espetáculos das arenas.

Foi o sucesso nas arenas que abriu a porta da mídia para você?
Jayne – Eu sempre tive muito apoio nos programas de televisão, não posso me queixar. No rádio também, sempre tocaram minhas músicas apesar do pouco trabalho que as gravadoras dedicaram a mim. Eu nunca fui uma grande prioridade das gravadoras, exceção da época da Paradoxx, que comprou a ideia country e realmente investiu na Jayne. Eu sempre tive alguns problemas em outras gravadoras por causa de outras cantoras. Fiz praticamente sozinha meu trabalho, aquele de pegar o disco, botá-lo debaixo do braço e ir para estrada. Meu empresário e produtor de muitos anos, José Reinaldo, também sofreu tudo isso comigo e me ajudou muito na caminhada. Pelo menos durante os primeiros 20 anos foi realmente muito complicado.

Mas você sempre marcou presença nos mais diferentes programas de televisão
Jayne – Tive muita abertura nos programas de TV desde a época do “Clube do Bolinha”, depois Raul Gil, Gugu Liberato no “Sabadão Sertanejo”. Todos nos deram muita força logo no início da carreira. Na Ana Maria Braga eu entrei com o cavalo no programa dela. Foi algo muito diferente, uma inovação. Foi lindo.

E o que você me diz de Hebe Camargo? Ela tinha afeição especial por você…
Jayne
– A Hebe, poxa a Hebe era muito amiga, muito querida, ela adorava o estilo country. Estive em muitos programas da Hebe. Ela botava até um touro mecânico no palco e fazia especiais country. Inclusive uma vez eu emprestei uma roupa minha completa para a Hebe. Calça branca, aquele blazer branco que eu usava de franjinhas, botinhas brancas, chapéu. Ela foi de Jayne no programa e serviu direitinho. Foi lindo de ver. O filho dela, o Marcelinho Camargo, sempre foi meu fã e me acompanhava muito em diversos shows. Éramos grandes amigos também.

Você deixou a carreira por alguns anos. Como foi a retomada?
Jayne
– Casei, tive filho e parei por mais de sete anos. A retomada foi um pouco difícil. O mundo artístico mudou muito. Hoje não são mais as gravadoras que ditam a normas, né? O artista iniciante já vem com DVD pronto, ônibus lotado, cenário, painel de LED, já vem com tudo e não tem uma sequer tocando nas rádios. Eles têm um milhão de visualizações na internet sem ter um trabalho nas rádios, por exemplo. É bem diferente. É complicado competir com essa estrutura, com a grana que o pessoal coloca hoje. É muito diferente do que você vencer na raça e na coragem como era antigamente, como foi meu caso e continua sendo: na raça e na coragem.

É verdade que você também foi aeromoça?
Jayne
– Sim fui aeromoça durante 10 anos da minha vida. Fui da Varig, que considero a melhor empresa aérea que o Brasil já teve. Uma pena, não dá para acreditar que a Varig quebrou. O governo quebrou a Varig. Mas enfim…. Eu fui do interior para São Paulo com 16 anos e com a música na cabeça. Eu queria cantar e o sonho acabou desvirtuando em pouco nessa época que entrei para a aviação. Mas mesmo lá eu era conhecida como cantora e participei de festivais lá dentro da Varig,

E como entrou no mundo da música?
Jayne – Participei de um festival de música sertaneja e venci a final nacional. Como prêmio recebi a primeira gravação de um LP, sou do tempo vinil né (rs). Além desse LP do festival, eu gravei meus três primeiros discos em Vinil e, depois, no quarto, em 95, entrou a era do CD. Aí eu já gravei em vinil e CD. E em fita cassete também, porque até1995 ainda rolava fita cassete. Me orgulho muito ter pertencido à época. A gente pegava o vinil, botava debaixo do braço e ia fazer rádio de madrugada.

Como será voltar a Jaguariúna e cantar na Festa dos Caminhoneiros, uma tradição na cidade. O que o público pode esperar?
Jayne – O show de domingo é especial, claro com uma estrutura um pouco menor por ser acústico. Prometo caprichar. Vou cantar meus sucessos antigos e músicas do novo DVD. Meu show atualmente é muito dançante, muito para cima, muito modão. Canto “Galopeira”, “Mercedita”, “Vai pro inferno com seu amor” e muitas outras. Muitos sucessos que os caminhoneiros e o público vão adorar.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *